Um pouco da história de nosso padroeiro em tempo de “Peste”.
Um Bispo em tempos de epidemia
Em 1576 explodiu em Milão a violenta peste, que passaria à história com o nome de São Carlos, e durou até setembro do ano seguinte: na verdade, em dezembro já se podia dizer que estava esconjurada, tanto que o governador tinha suspendido as quarentenas e O ARCEBISPO organizou orações públicas de ação de graças, mas depois a peste reapareceu, aparentemente pela ambição de pessoas que quiseram traficar roupas já usadas por indivíduos infectados.
O próprio GOVERNADOR, que era o marquês de Ayamonte, tendo publicado precipitadamente alguns decretos de ordem pública que lhe pareciam mais urgentes, entre os quais uma severa proibição aos gentis-homens de abandonarem a cidade naquela situação, depois de algum tempo também ele FUGIU COVARDEMENTE de Milão, demorando-se em Vigevano e depois em Gambolò.
SÃO CARLOS, que se dirigira momentaneamente a Lodi para assistir o bispo moribundo, recebeu a notícia quando presidia os funerais; IMEDIATAMENTE ACORREU COM NOBRE AUDÁCIA A MILÃO, DE ONDE NÃO SE AFASTOU MAIS, senão quando viu sua querida cidade livre de todo contágio.
A conselho de São Carlos, foram adquiridos seis outros pedaços de terreno fora da cidade, onde foram improvisadas cabanas de madeira e de palha para abrigar outros empestados. Os religiosos não deixaram de comparecer novamente: eram Barnabitas, Teatinos, Jesuítas, Olivetanos, Agostinianos, Carmelitas, padres de San Paolo Decollato, frades Menores e sobretudo Capuchinhos.
Foi então que São Carlos desenvolveu uma caridade tão heroica, a ponto de ofuscar com seu esplendor a própria lembrança do mal. ELE INTENSIFICOU AS ORAÇÕES E DEVOÇÕES PÚBLICAS; PROMOVEU TRÊS PROCISSÕES ESPECIAIS DE PENITÊNCIA, das quais participou regularmente toda a cidade, sem distinção de ricos e pobres, de autoridades e subordinados: a primeira, na quarta-feira 3 de outubro de 1576, moveu-se desde o Domo até Santo Ambrósio; a segunda, na sexta-feira, até São Lourenço; e a terceira, no sábado, até a Madonna di San Celso. O CARDEAL PARTICIPOU DELAS DESCALÇO, com uma grossa corda no pescoço, carregando um pesado crucifixo; e também a pés descalços, com a corda no pescoço, ali estavam todos os seus familiares, os cônegos do Domo, os religiosos, o clero secular.
Além disso, ele havia determinado que sete vezes durante o dia, e sete vezes à noite, OS SINOS TOCASSEM para convidar o povo à oração; e então todos, onde quer que se encontrassem, recitavam ladainhas e salmos segundo as prescrições do arcebispo. MILÃO PARECIA TRANSFORMADA EM UM GRANDE TEMPLO. A procura pelos Sacramentos era muito grande.
TAMBÉM OS SACERDOTES, ainda que titubeantes de início, foram depois fortalecidos pela coragem e pela audácia de seu pastor: a seu exemplo, desafiavam qualquer perigo, COMPARECENDO A TODA PARTE ONDE OS DESEJASSE UM FIEL, SUBIAM POR ESCADINHAS ATÉ AS JANELAS E DAVAM A COMUNHÃO AOS FIÉIS NO PARAPEITO.
Às orações, o cardeal juntava tal generosidade ao oferecer sua pessoa e seus haveres para alívio dos pobres, que o povo o olhava como um verdadeiro Santo que passasse pela terra. Logo que se desencadeou a peste, ele havia escrito seu testamento, com a data de 19 de setembro de 1576: ele estava perfeitamente resignado ao sacrifício da vida; imagine-se, pois, com que generosidade ele doava suas riquezas! Quando o dinheiro foi todo distribuído, ELE VENDEU A PRATARIA DE SUA CASA, transformou em roupas as tapeçarias de sua parede, distribuiu as próprias vestes.
De volta a casa, à noite, muitas vezes não achava um pedaço de pão para matar a fome, porque se privara de tudo. Destinou em benefício dos pobres grande parte das piedosas doações da Igreja; enviou ao Lazzaretto até o seu humilde leito, contente com duas banquetas para seu brevíssimo repouso.
(Do livro “Vida de São Carlos Borromeu”, Ed. Flos Carmeli, São Paulo)
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