Patrimônio Natural, Cultural e Paisagístico de Lagoa da Prata
Maria Elisa Castellanos Solá – Instituto de Ciências Biológicas, Departamento de Biologia Geral – Universidade Federal de Minas Gerais – Lab. de Ecofisiologia de Organismos Zooplanctônicos. Av. Antônio Carlos, 6627. 31270-910. CP 486. Belo Horizonte/MG, Brasil. mecastel@hotmail.com
No município de Lagoa da Prata há três unidades paisagísticas que se destacam na região: o sistema lacustre, as veredas e os afloramentos rochosos, além do patrimônio arquitetônico rural e urbano. Na zona urbana encontramos remanescentes do arquitetônicos do início da formação da cidade, a Lagoa da Prata e a vereda do Parque dos Buritis; na zona rural encontramos exemplares de fazendas coloniais, o sistema lacustre e os afloramentos rochosos recobertos com mata seca, onde há grutas e sítios arqueológicos. Portanto, Lagoa da Prata possui um conjunto de atributos naturais e culturais expressivo que se for corretamente conservado poderá ser um complexo turístico importante e de fácil acesso devido à proximidade física de todos estes elementos. A seguir realizamos algumas considerações sobre a conservação deste patrimônio natural, cultural e paisagístico do município.
1 – As Lagoas
Inseridas num relevo suave, as lagoas constituem uma unidade paisagística que deve ser identificada e valorizada como tal. Até o momento, as atenções tem sido voltadas para as lagoas de maior porte ou as utilizadas para recreação, sendo que o restante das lagoas encontra-se desprovido de ações de conservação. Portanto, nos parece que a paisagem lacustre da região atualmente não é reconhecido como um conjunto a ser conservado. Durante a nossa visita ao município percebemos claramente esta contradição, a qual conduz a uma percepção fragmentada da paisagem, onde as lagoas do meio rural não possuem significado e nem importância. Na nossa visão, as lagoas abertas a visitação devem ser ‘representantes’ do conjunto lacustre, e para tal, é necessário a conservação integral do conjunto. Por outro lado, a maioria destas lagoas encontra-se em áreas de pastagens ou de agricultura sem vegetação ciliar no seu entorno, estando sujeitas aos processos de poluição por fertilizantes, agrotóxicos, etc. Estando muitas delas dentro de área cárstica, é fundamental a conservação da qualidade da água destas lagoas já que pode estar ocorrendo a poluição do aqüífero, comprometendo a água da região. Desta forma, sugere-se que seja desenvolvido um programa de recomposição da mata ciliar no entorno das lagoas, o qual além de valorizar paisagisticamente a região, oferece alguma proteção contra a poluição e aumenta os hábitats disponíveis para a vida silvestre.
2 – As Veredas
As veredas constituem outro elemento paisagístico e ecológico importante, devendo ser objeto de valorização e integração aos corpos d´água. Impressiona na cidade, a vereda do Parque dos Buritis, já que é um caso raro de existência (e sobrevivência) de uma vereda em zona urbana. Parte desta vereda encontra-se protegida pelo Parque, porém, há uma outra porção expressiva fora dos limites do parque. Consideramos que seja urgente a adoção de medidas de proteção integral da vereda, antes que a expansão urbana e outras atividades venham a degradar este raro patrimônio urbano. Se bem planejado, esta Unidade de Conservação poderá ser um atrativo turístico importante.
3 – As Grutas e Sítios Arqueológicos
Os afloramentos rochosos de calcário apresentam algumas grutas e pequenos abrigos com sítios arqueológicos. Lembramos que estes são protegidos por lei federal e, em especial, os sítios arqueológicos são Bens da União. Este acervo pode ser um importante atrativo turístico devido à sua importância científica. Todavia, a abertura dos sítios à visitação somente pode ser feita após a elaboração e implantação de um plano de manejo que deverá ser aprovado pelo IPHAN no caso dos sítios arqueológicos, e pelo IBAMA no caso das grutas. Como os sítios arqueológicos são Bens da União, qualquer dano a eles impetrado é crime federal. Portanto, incentivar e divulgar, junto a órgãos de turismo e imprensa, a existência destes sítios para visitação pública pode acarretar sérios problemas à integridade física dos mesmos assim como conseqüências legais.
4 – Os Bens Arquitetônicos
Como mencionado anteriormente, tanto a zona urbana como a zona rural apresentam exemplares arquitetônicos da época da colonização da região. Também destaca-se a ponte de ferro Olegário Maciel que une Lagoa da Prata ao município de Luz. Sugerimos que estes bens arquitetônicos sejam tombados a nível municipal. Para tal, a prefeitura poderá contar com orientação do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais – IEPHA/MG. O tombamento municipal também pode contemplar o patrimônio natural, sendo então que a proteção integral da vereda do Parque dos Buritis pode se dar através deste instrumento. Lembramos que o município ao ter Unidades de Conservação (parques, reservas biológicas, etc.) e Bens Tombados poderá receber o ICMS – ecológico, cujos recursos poderão ser aplicados na conservação deste patrimônio.
Finalizando, o município de Lagoa da Prata já demonstrou grande sensibilidade no trato das questões ambientais e culturais, tendo participado de uma movimentação exemplar na recomposição de matas ciliares, integrando atualmente o roteiro dos tropeiros, tendo implantado o museu histórico da cidade, criado o Parque dos Buritis e iniciado ações de conservação nas principais lagoas da região. Assim, acreditamos em que esta filosofia, já incorporada na sua população, tenha continuidade tornando Lagoa da Prata um município reconhecido pela qualidade de vida e conservação do seu patrimônio.
Citação deste capítulo: Solá, M. E. C. 2003. Considerações sobre a conservação do patrimônio natural, cultural e paisagístico de Lagoa da Prata / MG. In: Valadão, R. C. & Landau, E. C. (eds.) Análise Integrada do Meio Ambiente – Lagoa da Prata, MG. Publicação em CD-ROM, Lagoa da Prata, UFMG/PMLP.
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