Leite A2A2 ganha espaço nos supermercados e na preferência do consumidor
Fonte: Jornal Novo Conexão – Nº 357 – 1ª QUINZENA DE JULHO 2022
Por Maria Teresa Leal
Produto que é mais bem digerido é uma tendência de mercado
Talvez você ainda não tenha reparado a presença nas prateleiras dos supermercados de leites ou derivados, como queijos e iogurtes, com a inscrição no rótulo A2A2. Eles estão cada vez mais presentes no comércio ou em vendas diretas porque essa é uma tendência de mercado que ganha cada vez mais força: a produção de laticínios feitos com leite contendo beta-caseína do tipo A2A2, uma proteína que melhora sua digestibilidade.
O pesquisador da Embrapa Gado de Leite, Marcos Vinícius Barbosa, afirma que há cada vez mais propriedades em Minas e em São Paulo se empenhando em produzir, processar e vender o leite com essa particularidade. Mas processar e distribuir o produto não é papel dos laticínios? Em tese sim, mas como ainda não são muitas as fazendas investindo nesse tipo de produto e elas estão em regiões diferentes, a logística de coleta torna-se difícil. “Esse arranjo é algo que ainda precisa ser construído”, disse ele.
De olho nas tendências do mercado, a marca Piracanjuba, com sede em Goiânia (GO), saiu na frente e tornou-se o primeiro do país a produzir o leite A2A2, de caixinha. A gerente de Marketing da empresa, Lisiane Campos, conta que eles decidiram investir no segmento depois de ouvir as demandas de clientes que entraram diretamente em contato com a empresa, relatando como consumir produtos específicos para eles, como os da linha Zero Lactose, por exemplo, havia lhes trazido uma maior qualidade de vida. “Percebemos, no entanto, que um outro grupo de consumidores relatava outros tipos de desconfortos e decidimos investir nesse segmento do leite A2A2”.
O primeiro passo foi buscar fazendas que tivessem animais selecionados geneticamente e que seguissem protocolos de certificação, garantindo a origem das vacas A2A2 e a rastreabilidade do leite extraído. “Nosso produto possui o selo da Integral Certificações, com auditorias feitas pela Genesis Group, que confirma que o leite é derivado apenas de vacas com genótipo A2A2 para a produção de beta-caseína. Por isso, contém apenas caseína A2 em sua composição, o que o torna, naturalmente, mais fácil de digerir”, conta a gerente.
Gene sofreu mutação
Há cerca de dez mil anos, de acordo com Marcos Vinícius, da Embrapa, todos os bovinos produziam somente leite A2A2, mas o gene da beta caseína sofreu uma mutação dando origem ao alelo A1, ou seja, uma variação do mesmo gene. A partir de então, o gado com os alelos A1A1 ou A1A2 só produzem leite A1. “Descobriu-se, então, que no momento em que o ser humano ingere o leite A1, produz um peptídeo chamado beta-casomorfina7 (BCM-7) que causa alergia nos indivíduos que já têm essa propensão, produzindo sintomas como diarreias, tosse, refluxo, erupções e coceiras. O alelo A2 não desencadeia a formação desse peptídeo, portanto, tem uma melhor digestibilidade,” explica o pesquisador.
Segundo ele, os pecuaristas de leite começaram a prestar atenção nessa história, há cerca de dez anos, quando foram divulgados os primeiros estudos feitos na Austrália e na Nova Zelândia. Mas, mesmo antes disso, a Embrapa já vinha ajudando os criadores a identificar os touros A2A2 que têm 50% a mais de chance de gerar novilhas A2A2, se forem acasalados com vacas A1A2. “A transição dos plantéis pode ser feita aos poucos para não acarretar uma queda brusca na produção ou, de uma só vez, o que terá um custo maior e, provavelmente, uma redução na produção de leite, caso as vacas A1A1 e A1A2 sejam descartadas e não sejam substituídas imediatamente”, alerta.
O engenheiro agrônomo, especialista em pecuária leiteira e consultor do Sistema FAEMG/SENAR, Walter Ribeiro, acredita que a predominância do gado com essa característica genética seja um caminho sem volta. “Haverá um dia, daqui a 30 ou 40 anos, que todos os rebanhos serão A2A2”.
Se depender da procura por touros, sêmens ou embriões nas Centrais de Distribuição, a previsão de Ribeiro deverá mesmo se concretizar. O gerente nacional do produto leite da Alta Genetics, maior central de distribuição de sémen do país, Guilherme Marquez, disse que a característica A2A2 virou um “fator de escolha”. Ou seja, o cliente assiste a prova do touro e a pergunta final é sempre se o animal é A2A2. “Se não for, ele não leva”.
Marquez diz que isso começou a acontecer há uns cinco anos, depois que começaram a ser divulgadas informações “sem embasamento científico”, a respeito de possíveis malefícios do leite. “Martelaram nas redes sociais que o homem era o único mamífero que mesmo depois de adulto ainda tomava leite; que o produto fazia mal porque causava má digestão e outros problemas de saúde. Então, a comunidade científica e os produtores sentiram necessidade de esclarecer os fatos, falando da mutação da beta caseína que gerou o alelo A1 que, por sua vez, gera um peptídeo não reconhecido pelo organismo de algumas pessoas, provocando alguns desconfortos.
Na avaliação de Guilherme, a história se inverteu. Hoje, o leite é o ‘mocinho’ da nutrição, principalmente se for A2A2. “Nutricionistas e médicos recomendam e o mercado é soberano. Se ele está pedindo, nós atendemos. Eu até contrato touros A1A1, mas em muito menor número”.
Leite saudável e à moda antiga, de porta em porta
A Fazenda Grotadas A2A2, em Santo Antônio do Monte, é um exemplo de propriedade que investiu no segmento. O proprietário, advogado, técnico agrícola e promotor de justiça aposentado, Tomáz Aquino começou a selecionar o gado há dez anos depois de ler um estudo a respeito num evento em Uberaba. “Fiquei impactado e decidi mudar por uma questão de ética. Não acho uma boa fazer um produto que cause desconforto em algumas pessoas”.
A seleção de touros Gir Leiteiro e Girolando registrados, em sua fazenda, foi iniciada em 2004, alcançando, hoje, um rebanho 100% com o genótipo A2A2. Tomáz já produz Queijo Minas Artesanal com esse diferencial. O sabor, segundo ele, é levemente ácido, casca com mofo branco e granulado, podendo ter 8, 10 ou 30 dias de cura, ao gosto do freguês.
Sua expectativa é começar a vender também o leite a partir de agosto. Ele aguarda apenas a chegada dos equipamentos como o pasteurizador e o envasador. “Já tenho até a câmara fria”, orgulha-se. Tomáz planeja entregar o leite em Santo Antônio do Monte e Lagoa da Prata, à moda antiga, de porta em porta e em mercadinhos de bairro em uma pequena caminhonete refrigerada. “É uma ideia antiga, romântica, um sonho. Mas não há nada definido. Já tenho também propostas de grandes empreendedores que querem comprar o meu leite para fazer uma distribuição maior. Vamos ver. Estou estudando as possibilidades”.
Tomáz acredita que o tempo em que todos os rebanhos serão A2A2 está mais próximo do que imaginamos. “No máximo, oito ou dez anos porque nos catálogos de touros só encontramos gado A2A2. Na Nova Zelândia, isso já é realidade”.
Quem quiser fazer pedidos do leite ou do queijo Grotadas, deve entra em contato pelo site grotadaaa2a2.pedzap.com.br ou pelos fones: (31) 9 9956-4771 ou (37) 9 8422-0619.
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