A greve da Usina de 1989
A greve de 1989
por Marcela Sobreira Silva
Dissertação apresentada ao Departamento de Psicologia da Universidade Federal de Minas Gerais, como parte dos requisitos para a obtenção do título de mestre em Psicologia. (Pagina 92)
O movimento de greve que ocorreu em 1989 foi um dos mais importantes na história do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Lagoa da Prata, pois, embora os acordos com a empresa já houvessem sendo feitos desde a fundação do sindicato, este foi o momento em que os trabalhadores se uniram em uma paralisação, atribuindo um novo sentido à luta coletiva.
O início desse movimento foi especialmente interessante, já que emergiu entre os trabalhadores que se solidarizaram com uma família que foi impedida de trabalhar. Dimas, que se lembra bem deste episódio, explica:
Tinha esses trabalhadores da mesma família, parece eles era uns quatro ou cinco, o pai, os filho… e… tudo trabalhava lá. Uns cortava cana, outros parece que, parece que era tipo serviços gerais e a mãe cuidava em casa e arrumava, colocava a moçada em forma e fazia o que era necessário pra eles empenhar os seus trabalho. Aí, um determinado dia, a mãe chega lá no pátio toda preocupada, aflita e foi atrás da gente, querendo conversar dizendo que a direção da empresa tava mandando os filho dela embora e como é que ela ia fazer e precisava manter a família e com os filho desempregado, como é que ia ser? E aí foi pra gente… ver se dava um encaminhamento, conversava com a direção, pra reverter o quadro. Aí a gente foi conversar com o chefe na época, Marco Antônio que ele chamava, aí ele simplesmente: ‘não, não tem mais conversa com esse povo não! Eles não ta querendo trabalhar!’. aí a gente insistiu, tentando conversar com ele, convencê-lo e demovê-lo da ideia de não concordar. ‘Não, mas o pessoal ta aí, Marco, ta aí, já ta com as vasilha…’. Eles tava com as coisa nas costas já pra trabalhar e foi barrado no pátio. ‘não, pelo amor de Deus, aí não, uai…’. ‘ah, não, esse povo não quer trabalhar não! Não, não tem assunto não!’.
‘Vamos ver, vamos tentar controlar isso aí!’. ‘não, não tem conversa não!’. Com essa história de não ter conversa, aí o pessoal empinou, aí que começou a empinar mesmo. E esse assunto rendeu, porque foi passando de um pro outro, pro outro, pro outro. Essa forma estranha do diretor: ‘não, não tem conversa.
Eles não quer trabalhar, ta é com preguiça!’. E aí houve a tomada de posição de todo mundo. Aí, pouco pra frente, aí já teve mesmo, aí parou tudo lá. Aí eles já começaram a querer dizer que a gente tava intransigente, que a gente tava levando pra um lado meio difícil de entender, perigoso… que aí tinha conseqüências e tal. É, na verdade, ia ter e teve, mas a gente do nosso lado acha que a intransigência e a falta de perspectiva no caso de querer resolver a coisa foi da empresa. Ele podia muito bem ter concordado com essa proposta, deixado o pessoal ir trabalhar e continuar normalmente. Mas foi intransigente e o outro lado também ficou nervoso e a coisa ferveu mesmo.
A articulação entre os trabalhadores cresceu e se transformou em uma greve, que durou 12 dias. Às reivindicações pela família demitida acresceram-se as exigências de salário, tornando a adesão dos trabalhadores ainda mais significativa: ruas foram tomadas pelos manifestantes em assembleias e passeatas de protesto.
As tentativas de negociação eram insistidas pelo sindicato, entretanto, de acordo com Dimas, a empresa, irredutível em suas determinações, “mandou comunicação pras polícia aqui da cidade, depois entrou policiamento de Bom Despacho, de Japaraíba, das cidadezinhas aqui mais próxima”, para conter o movimento. Algumas pessoas foram agredidas e presas (23) e, por fim, as negociações ocorreram sob a tutela de policiais armados, que fizeram a proteção dos representantes da empresa.
Um vídeo realizado pelos trabalhadores mostra que um dos armazéns da empresa foi saqueado durante as manifestações (24) . A destruição desse ponto comercial fica evidente nas imagens e revela de forma concreta como, a partir da intervenção da polícia, os trabalhadores passaram a viver “em clima de guerra”. (Dimas)
Em relato, Dimas expressa de maneira a compreender que a greve significou certo rompimento de uma determinada situação opressiva, historicamente experimentada pelos trabalhadores nos canaviais. Pessoal reuniu e destampou a tampa da panela, que tava tipo uma panela de pressão (risos). Aí teve muita coisa interessante, o… aquele chamado grito… grito forte, grito sindical quer dizer grito forte. E o pessoal gritou forte e juntou forte também e conseguiu umas vitórias muito importantes.
Com esse movimento de greve, houve uma mudança na relação entre a empresa e o sindicato. As negociações coletivas passaram a ser realizadas anualmente, houve a possibilidade de uma maior atenção do conselho diretor para com o sindicato, além do fato de que o pagamento tenha passado a ser em forma de salário quinzenal.
De um modo geral, percebemos que houve, enfim, um reconhecimento da empresa em relação à representação dos trabalhadores e à necessidade de entrar em diálogo e de cumprir os seus direitos trabalhistas. Identificamos, neste movimento, um marco divisório de uma mudança que vinha sendo construída desde as CEB’s – a luta coletivamente organizada pela superação de uma condição de vida marcada pela opressão.
23 Lembramos, aqui, do relato de D. Alzira que iniciou este capítulo, quando declara que em um momento posterior, ela foi chamada a identificar os policiais responsáveis pelas agressões ao Dimas e ao Fenelon, outro diretor do sindicato.
24 A empresa tinha três armazéns na cidade, onde os trabalhadores deveriam trocar os seus vales por alimentos, roupas e demais produtos que lhes eram necessários.
Uma das historias contadas e documentadas. Existem muitas versões. Com verdades verdadeiras, mentiras, mentiras tendenciosas e folclores. Estamos em pesquisa, e um dia publicaremos.
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Espero que a mestranda não tenha ouvido apenas o lado do PT, pois Dimas e Fenelon são petistas de carteirinha. Aliás, o Fenelon nem de Lagoa era. Tratava-se de um infiltrado do PT para aprontar a bagunça que aprontou: destruíram o armazém, o escritório, diversos veículos. O resultado foi que os diretores fecharam a vila, que era novinha, com ruas calçadas e toda a infraestrutura, fecharam a creche, a escola, praça de esportes, a Farmacia, o armazém, a igreja, o posto de saúde. Aquilo que era bom virou uma vila fantasma. Com o tempo, derrubaram as casas, o armazém e tudo mais. O mato tomou conta de tudo. E a vila, que era mais populosa que duzentas cidades de Minas Gerais, e, certamente seria levada à condição de cidade, hoje é só mato e cana. Esse foi o lado perverso da greve que precisa ser registrado. Escutar somente o PT, não dá.
Quanto ao motivo pelo qual aquela destruição aconteceu, não posso afirmar que foi o motivo citado acima, mas eu estava na usina na tarde daquele dia do ano de 1989, Fui moradora da Usina do meu nascimento até os 17 anos, cresci ali, as negociações da empresa que estava em transição, digo transição porque até meados de 1985/1986, “não haviam ali”, presidente, e nem diretores, haviam o Sr. Osvaldo Damasceno, O Sr. Vivalde, O Zé Nestor, o Paulo Rodrigues, O Sr. José Rocha, o Rafael Tomate, e o Marco Antônio, e tudo era negociado entre funcionário e chefes, e chefes e o Sr. Osvaldo Damasceno, que por sua vez era o representante máximo da Usina. Por volta dos anos de 1985 a 1986 foram chegando Dr. Ronaldo, Hélio Lima, e outros que começaram a dar nome às posições que se ocupavam na empresa. Mas voltando naquela tarde, me lembro muito bem, de estar na frente de minha casa, que era a casa Da dona Ilda do Zé Nestor, e presenciar a chegada de um caminhão da CUT, ao som de uma musica que nunca mais me esqueci porque marcou o dia da destruição do lugar onde cresci. Se o motivo começou com uma família, esse motivo chegou em ouvidos e intenções erradas, falo aqui com toda convicção, de que aquela greve nunca foi iniciativa de moradores da vila porque ali conhecíamos a todos, e tudo que estava para acontecer, era anunciado e todos nós moradores ficávamos sabendo, o que não aconteceu neste episódio. O caminhão da CUT parou de frente para a portaria da Usina e ali começou uma festança, musica alta, bebidas e muita dança, assistimos tudo da minha casa que ficava bem na avenida principal da vila de frente para a Usina. Quero ressaltar aqui que este episódio ocorreu em um mês de safra, época em que recebíamos safreiros do Brasil inteiro, inclusive que eram acolhidos no alojamento da usina e ficavam por ali por todo período de safra. Me lembro bem que alguém do alto do caminhão fazia discursos reivindicando direitos, que sinceramente acredito, até então desconhecidos pelos trabalhadores fixos daquele lugar. Por volta das 19hs, se bem me lembro, as pessoas que participavam da festa, começaram a subir pela nossa rua, armados de seus podões, cortando todas as árvores, dispostos a qualquer coisa para terem direitos, que mais uma vez acredito que dos nossos moradores, pouquíssimos deveriam entender do que se diziam naquele microfone. Infelizmente destruíram o armazém, nossa vila tinha acabado de ser todinha reformada, todas as casas passaram de telha para lage, e as árvores recém plantadas, passadas nos podões, as ruas de terra para um novo calçamento, calçamento este que serviu para produzir um barulho de destruição, quando entrou em atrito com os podões que por ele era passado, por aqueles arruaceiros, que por lá nunca mais voltaram. Quanto aos moradores, dos poucos que por ignorância se deixou levar por falácias de aproveitadores, e entraram naquele lamentável, e vergonhoso acontecimento, hoje devem contar arrependidos suas histórias sem méritos, e dos moradores antigos da Usina de Luciânia, afirmo aqui pelos que conheço, incluindo minha mãe, que contam suas melancólicas histórias de um lugar de onde nunca queriam ter saído, mas foram convidados a se retirarem como consequência daquela loucura.
Uma briga política” PT” e o povo, infelizmente. Essa pessoa que esta fazendo essa tese de mestrado, não conhece a verdadeira historia. Eu trabalhava la na época é o que vi e vivi foram cenas de guerra em cima de pessoas pobres, inocentes, que foram retiradas de la sem nada. Só mais uma da corja do PT. Parabéns pelas famílias que de la saíram, não pagavam agua, energia, aluguel e tinham armazém onde compravam de tudo a preço justo. E nos que ficamos la sendo ameaçados pela corja…….pesquise mais a fundo e descobrirá que a greve tem muito mais a ser relatado.
Os comentários refletem muito mais a realidade dos fatos. Nada como a memória viva de um povo que fez parte da realidade dos fatos.
A versão com ideologia é muito esquisita! Prefiro a versão dos comentários!
Lembro que nestes dias teve um evento no Oeste Estrela, e não sei por que “cargas dágua” uma briga generalizada começou com integrantes da policia ou do exercito, não me lembro mais, pois fazem muitos anos. Foi uma briga de grandes proporções, quebraram bastante coisa dentro e fora do clube. Saiu nos jornais da capital.
Antes de mais nada, gostaria de pedir desculpas a todos antigos moradores da Vila Luciânia. Todos vocês são pessoas honestas, trabalhadoras, de bem, sacudidas. Pessoas que fazem parte da classe operária que diretamente colaborou para que a cidade seja o que é hoje. Mas vamos aos fatos:
Este acontecimento tirou de uma certa forma, todas famílias de uma zona de conforto agradável que estavam. Muitos alí já seriamente pensava em criar suas famílias ali, sem vontade de crescer, e prosperar, tudo aquilo ali tava bom. Com o fim da Vila, muitos tiveram que rever seus conceitos e criaram seus variados negócios na “cidade” e deram seus pulos. As vezes ouço algumas pessoas dizerem que perderam tudo, mas na verdade ganharam um imensa nova oportunidade. Estou errado? Não quero ser desagradável com ninguém. Vou visitar aqui de mês em mês para ver se alguém concorda ou discorda de mim. Abraço a todos!